Estudos indicam “possibilidade” de nova via de transmissão do coronavírus

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Estudos recentes detectaram a presença de coronavírus nas fezes de pessoas contaminadas e também no esgoto.

Haverá a possibilidade estarmos diante de mais uma fonte de contaminação?

Neste artigo iremos falar um pouco sobre essas descobertas e as ações para monitoramento da contaminação de esgotos da região de Belo Horizonte e Contagem, MG.


A COVID-19 apresenta sinais e sintomas clínicos variáveis, não há características clínicas bem definidas que possam diferenciá-la de outras infecções respiratórias virais como a influenza, por exemplo. Os sinais e sintomas mais comuns são febre, fadiga e tosse seca

Outros sinais menos frequentes apresentam-se como cefaleia, dor de garganta, rinorreia ou corrimento nasal e sintomas gastrointestinais como náuseas e vômitos, dor abdominal e diarreia.

Os sintomas variam de indivíduo a indivíduo, entretanto, os sintomas menos comuns podem ser queixas principais em alguns pacientes.

Segue abaixo quadro com a frequência dos principais sintomas descritos em séries de casos:

Sintoma Frequência Sintoma Frequência
Febre 83-99% Fadiga 29-70%
Tosse 57-82% Anorexia 40-84%
Dispneia 18-55% Escarro 26-33%
Mialgias 11-44% Dor de garganta 5-17%
Diarreia 3-10% Náuseas 1-11%
Cefaleia 6-14% Tontura 9-12%
Rinorreia 4-5%

Fonte: TelessaúdeRS-UFRGS (2020).


2 Sintomas considerados comuns nas infecções por Coronavírus

Anosmia e Disgeusia (alterações do olfato e paladar) também são relatados como sintomas de pacientes com COVID-19 inclusive, há evidências que são possíveis manifestações iniciais da doença ou na ausência de outros sintomas.


Como ocorre a transmissão da COVID-19

Sabe-se que o principal meio de transmissão da doença é o contágio de pessoa a pessoa e ocorre pela dispersão de aerossóis, ou por contato. Qualquer pessoa que tenha contato próximo, 1 metro ou menos, com alguém com sintomas respiratórios, está em risco de ser exposta à infecção. Entretanto, mesmo pessoas infectadas que não apresentam sintomas, podem transmitir o coronavírus.

A transmissão ocorre por meio de gotículas contaminadas com o vírus. Essas gotículas de saliva, espirro, tosse ou catarro provenientes de uma pessoa infectada, podem se espalhar pelo ar e depositar-se em objetos e superfícies. O contato pessoal direto ou com objetos ou superfícies contaminadas, seguido de contato com as mucosas da boca, nariz ou olhos, possibilita a infecção.

Recentemente, a revista Lancet Gastroenterol Hepatol (vol. 5, abril/2020), publicou artigos que identificaram o RNA do novo coronavírus nas fezes de pacientes com a Covid-19.

Nesses estudos, em cerca de metade dos pacientes investigados, houve detecção do RNA viral após cerca de 11 dias depois de as amostras do aparelho respiratório testarem negativo.

Esse fator é indicativo de que a replicação ativa do vírus pode ocorrer mesmo depois que o trato respiratório já se encontrar livre do vírus. Essa multiplicação viral que afeta o sistema gastrointestinal, contribui para a possibilidade da transmissão via fecal-oral ocorrer.

Até o momento, não foram encontradas evidências desse tipo de transmissão fecal-oral. Entretanto, em surtos anteriores como o de 2002, também provocados por um subtipo de coronavírus, constatou-se a viabilidade dos vírus em condições ambientais adequadas.

Esse aspecto é muito preocupante se levarmos em consideração áreas pobres com baixos índices de saneamento básico e onde o tratamento de esgoto é deficitário. Isso implica que uma enorme carga viral pode estar sendo despejada nos rios. De acordo com dados Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento, SNIS, cujos dados estão atualizados até 2018, somente 46% do esgoto no Brasil é tratado.

Esse fator é indicativo que uma enorme parcela da população estará exposta ao esgoto contaminado, nesse caso ao coronavírus. Também os trabalhadores das estações de tratamento de esgoto e os pesquisadores que coletam amostras para estudos estão expostos a situações de possível risco de contaminação.


Tratamento e monitoramento do esgoto

Em um estudo realizado na Holanda, o novo coronavírus foi detectado em amostras do esgoto do aeroporto de Schiphol, em Amsterdã. Assim, levando-se em consideração os estudos indicadores da presença de coronavírus em fezes de pacientes infectados e em esgotos na Holanda, pesquisadores brasileiros, mais precisamente da Universidade Federal de Minas Gerais, UFMG, defendem a estratégia do monitoramento de esgoto para a detecção do coronavírus.
Em nota técnica publicada pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Estações Sustentáveis de Tratamento de Esgoto (INCT ETEs Sustentáveis), sediado na UFMG, o monitoramento do esgoto é uma das estratégias para a detecção da presença de doença ou infecção viral na população, mesmo entre portadores assintomáticos.

Pesquisadores do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da Escola de Engenharia da UFMG estão realizando uma ação para monitoramento do esgoto em Belo Horizonte e Contagem, MG, a fim de mapear a ocorrência do novo coronavírus.

O projeto Monitoramento Covid Esgotos foi lançado no dia 23 de abril pelo INCT ETEs Sustentáveis, pela Agência Nacional de Águas, ANA, e pelo Instituto Mineiro de Gestão das Águas, Igam. Esse projeto-piloto com duração inicial de dez meses tem por objetivo descobrir as informações que o esgoto pode conter sobre a disseminação da Covid-19 em comunidades específicas, ao longo do tempo.
Na região metropolitana de Belo Horizonte já foi detectada a presença do novo coronavírus em amostras de esgoto analisadas.


Monitoramento Covid Esgotos e primeiros resultados

As análises das primeiras amostras de esgoto coletadas pelos pesquisadores do projeto Monitoramento Covid Esgotos foram realizadas e foi divulgado o primeiro boletim com os resultados preliminares. Foram coletadas 26 amostras nos trabalhos de campo entre os dias 13 e 24 de abril em diversos pontos em Belo Horizonte e em Contagem.

O boletim foi publicado no dia 04 de maio e dentre as 26 amostras analisadas, foi detectada a presença do novo coronavírus em 8 amostras, 31%. Três amostras resultaram positivas na bacia do ribeirão do Arrudas e cinco na bacia do ribeirão do Onça.

Com os dados obtidos será possível fazer o monitoramento comparativo entre regiões distintas e dentro da mesma região através do tempo. Também haverá possibilidade de estimar o número de pessoas infectadas dentro das regiões estudadas. O avançar dos estudos possibilitará o mapeamento epidemiológico dinâmico com os resultados da pesquisa e o acompanhamento da evolução da ocorrência do coronavírus na área de estudo.


Conforme exposto anteriormente, não há evidências que suportem a transmissão fecal-oral pelo coronavírus mas, ainda há muito a ser estudado sobre a patologia que abrange a COVID-19. Mesmo não havendo evidências desse tipo de transmissão, o fato é o que vírus pode ser encontrado nas fezes de paciente e consequentemente jogado em redes de esgotos e por fim nos rios.

Se o vírus vai parar no ambiente e em condições ambientais favoráveis ele pode sobreviver, é de se esperar que essa forma de contágio é possível. O que nos resta é a expectativa de que os estudos tragam respostas a essa e outras questões e também o desenvolvimento de uma vacina.


Referências:
  • MINISTÉRIO DA SAÚDE. O que é coronavírus? Disponível em: https://www.saude.gov.br/o-ministro/746-saude-de-a-a-z/46490-novo-coronavirus-o-que-e-causas-sintomas-tratamento-e-prevencao-3. Acesso em: 14 abr. 2020.
  • BMJ BEST PRACTICE. Coronavirus disease 2019 (COVID-19). Disponível em: https://bestpractice.bmj.com/topics/en-gb/3000168/history-exam#keyFactors. Acesso em: 8 mai. 2020.
  • TELESAÚDERS. Qual a aplicabilidade dos testes diagnósticos para COVID-19? Disponível em: https://www.ufrgs.br/telessauders/posts_coronavirus/qual-a-aplicabilidade-dos-testes-diagnosticos-para-covid-19/. Acesso em: 28 abr. 2020.
  • THELANCET.COM. Enteric involvement of coronaviruses: is faecal–oral transmission of SARS-CoV-2 possible?. Disponível em: https://www.thelancet.com/pdfs/journals/langas/PIIS2468-1253(20)30048-0.pdf. Acesso em: 8 mai. 2020.
  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS. Pesquisadores da UFMG alertam para efeitos de presença do novo coronavírus no esgoto. Disponível em: https://ufmg.br/comunicacao/noticias/pesquisadores-da-ufmg-alertam-para-efeitos-de-presenca-do-novo-coronavirus-no-esgoto. Acesso em: 8 mai. 2020.
  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS. Grupo da UFMG vai monitorar o novo coronavírus no esgoto em BH e Contagem. Disponível em: https://ufmg.br/comunicacao/noticias/grupo-da-ufmg-executa-projeto-piloto-de-monitoramento-da-covid-19-no-esgoto. Acesso em: 8 mai. 2020.
  • AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS. Monitoramento COVID Esgotos constata presença do coronavírus em primeiras coletas. Disponível em: https://www.ana.gov.br/noticias/monitoramento-covid-esgotos-constata-presenca-do-coronavirus-em-primeiras-coletas. Acesso em: 8 mai. 2020.
  • SNIS – SISTEMA NACIONAL DE INFORMAÇÕES SANITÁRIAS. Mapa de Indicadores de Esgoto. Disponível em: http://appsnis.mdr.gov.br/indicadores/web/agua_esgoto/mapa-esgoto. Acesso em: 8 mai. 2020.
  • AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS. Monitoramento COVID Esgotos constata presença do coronavírus em primeiras coletas. Disponível em: https://www.ana.gov.br/noticias/monitoramento-covid-esgotos-constata-presenca-do-coronavirus-em-primeiras-coletas. Acesso em: 8 mai. 2020.

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