O uso da talidomida por gestantes como medicamento antiemético nas décadas de 1950/60 foi um marco na história dos fármacos teratogênicos. Por volta de 10 mil crianças nascidas naquele período apresentaram focomelia, ou outras alterações congênitas, associadas à utilização deste medicamento durante a gravidez.
Acreditava-se até então, que a placenta funcionava como uma barreira, protegendo o feto de qualquer agressão farmacológica. Atualmente sabe-se que a maioria dos fármacos contidos nos medicamentos utilizados por gestantes atravessa a placenta e atinge a corrente sangüínea do feto. Deve-se considerar então, que quando uma grávida ingere ou recebe qualquer medicamento dois organismos serão afetados, sendo que um deles (o feto) ainda não tem a mesma capacidade de metabolizar substâncias que a mãe, estando portanto, mais sujeitos a efeitos negativos não esperados. (CARMO; NITRINI, 2004)
A comercialização de um novo medicamento só é aprovada seja pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), pela Food and Drug Administration (FDA) e outros órgãos reguladores pelo mundo após avaliarem os resultados do uso desse fármaco em determinadas populações. Porém, são raros os experimentos para determinar a segurança, eficácia e alterações farmacocinéticas em mulheres gestantes, em virtude das impossibilidades éticas envolvidas na pesquisa deste público.
Para a maioria dos fármacos não existem dados científicos prévios sobre o verdadeiro risco quanto ao seu uso durante a gravidez. Em geral, os dados disponíveis para este público são oriundos das observações clínicas de casos em que se associam os fatores causa e efeito.
Quando se utiliza um fármaco durante o período da gestação, deve-se avaliar sempre o fator risco-benefício para mãe e feto. O medicamento de escolha deve ser aquele que não possui efeito teratogênico ou qualquer alteração funcional. (RIBEIRO et al., 2013)
É uma anomalia congênita que impede a formação normal de braços e pernas. Caracteriza-se pela aproximação ou encurtamento dos membros do feto, tornando-os semelhantes aos de uma foca. (Wikipedia)
Um agente pode ser considerado teratogênico quando produz uma alteração, maior ou menor, na morfologia e ou fisiologia normais do feto. Tais alterações, principalmente as má-formações congênitas, têm maior risco de acontecer quando o medicamento com potencial teratogênico é utilizado no primeiro trimestre de gravidez (período de diferenciação embriológica). Nos outros períodos podem ocorrer danos fetais decorrentes de alterações na fisiologia materna, efeitos farmacológicos sobre o feto e interferência no desenvolvimento fetal. (CARMO; NITRINI, 2004)
Durante o período de gestação e amamentação, os profissionais de saúde devem observar alguns princípios básicos para a correta prescrição de medicamentos, tais como:
Com o objetivo de orientar e auxiliar o prescritor na escolha terapêutica mais adequada para a gestante, desde 1979 a agência americana FDA adotou classificação de risco na gravidez que é o enquadramento em que os fármacos são categorizados de acordo com o risco de causar dano ao feto durante a gravidez, baseando-se em estudos em animais ou humanos. Os fármacos são categorizados em 5 (cinco) categorias: A, B, C, D e X.
ᴄᴀᴛᴇɢᴏʀɪᴀs ᴅᴇ ғᴀᴛᴏʀᴇs ᴅᴇ ʀɪsᴄᴏ ᴘᴀʀᴀ ᴜsᴏ ᴅᴇ ᴍᴇᴅɪᴄᴀᴍᴇɴᴛᴏs ɴᴀ ɢʀᴀᴠɪᴅᴇᴢ (ғᴅᴀ-𝟷𝟿𝟽𝟿)
CATEGORIA | RISCO | EXEMPLOS |
A | Estudos controlados em mulheres grávidas não demostraram risco para o feto no primeiro trimestre da gravidez. | Doxilamina Ácido fólico Levotiroxina |
B | Estudos de reprodução animal não demonstraram risco para o feto e não há estudos adequados e controlados em mulheres grávidas; ou estudos de reprodução animal apresentaram efeitos adversos, mas estudos controlados em mulheres grávidas não apresentaram efeitos adversos ao feto. | Amoxicilina Loratadina Ondansetrona |
C | Estudos de reprodução animal mostraram um efeito adverso no feto; ou não há estudos de reprodução animal e nem estudos controlados em humanos. | Fluconazol Metoprolol Sertralina |
D | Evidência positiva de risco fetal, mas os benefícios podem superar os riscos. | Lisinopril Lítio Fenitoína |
X | Evidência positiva de risco fetal, e os riscos superam claramente qualquer benefício. | Metotrexato Sinvastatina Varfarina Isotretinoína |
(traduzido de Pernia et al, 2016) – Tabela / Reprodução: (AZEVEDO, 2019, p.14)
Em dez de 2014 o FDA publicou o Conteúdo e o Formato da Rotulagem de Medicamentos com Prescrição Humana e Produtos Biológicos; Requisitos para rotulagem de gravidez e lactação , conhecida como “ Regra de rotulagem de gravidez e lactação ”.(Tradução:fda.gov)
Essa nova regra retira as categorias A, B, C, D e X anteriormente implementadas, e muda várias outras regras para o conteúdo e formato da rotulagem de medicamentos com prescrição humana e produtos biológicos nos EUA a partir de 2015.
Não encontrei uma legislação específica para o conteúdo e o formato da rotulagem de medicamentos como encontramos nos EUA.
Mas a regras para a elaboração, harmonização, atualização, publicação e disponibilização de bulas de medicamentos para pacientes e para profissionais de saúde, possuem orientações quanto ao uso de medicamentos por gestantes e lactantes.▼
♦A Anvisa possui uma página exclusiva sobre Regularização de Produtos – Medicamentos » Bulas de Medicamento
♦A legislação que trata de assuntos específicos relacionados às bulas de medicamentos para pacientes e para profissionais de saúde é a RDC n° 47/2009 .
♦RDC Nº47, DE 8 DE SETEMBRO DE 2009 » Esse link possui a RDC e todas as suas alterações até 2016.
♦Podcast – Gravidez e os riscos do uso de medicamentos sem orientação – Jornal da USP
♦Pregnancy Registry Information for Health Professionals
♦Pregnancy and Lactation Labeling (Drugs) Final Rule
♦Pregnancy Registry Information for Health Professionals
♦Drugs@FDA: FDA-Approved Drugs – Consulta a todas as Drogas aprovadas pelo FDA
ANVISA. Regularização de Produtos – Medicamentos – Bulas de Medicamentos. Disponível em: http://portal.anvisa.gov.br/registros-e-autorizacoes/medicamentos/produtos/bulas-e-rotulagem/bulas-de-medicamentos. Acesso em: 6 dez. 2019.
AZEVEDO, Aline Abrahão. O uso de medicamentos durante a gestação e o papel da Farmacovigilância. 2019. 32 f. Monografia (Especialização) – Curso de Especialização em Tecnologia Industriais Farmacêuticas, Instituto de Tecnologia em Fármacos / Farmanguinhos, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 2019. Disponível em: <https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/34992>. Acesso em: 10 dez. 2019.
BLOG DO CEMED. Medicamentos na gravidez: cautela é o melhor remédio. por Weverton S Teixeira. Disponível em: https://cemedmg.wordpress.com/2014/03/25/medicamentos-na-gravidez-cautela-e-o-melhor-remedio/. Acesso em: 2 dez. 2019.
CARMO, Thais Adriana do; NITRINI, Sandra Maria O. O.. Prescrições de medicamentos para gestantes: um estudo farmacoepidemiológico. Cadernos de Saúde Pública, [s.l.], v. 20, n. 4, p.1004-1013, ago. 2004. FapUNIFESP (SciELO). http://dx.doi.org/10.1590/s0102-311×2004000400015.
EUA. Food and Drug Administration. FDA-2006-N-0515. Content and Format of Labeling for Human Prescription Drug and Biological Products; Requirements for Pregnancy and Lactation Labeling. Disponível em: <https://www.federalregister.gov/documents/2014/12/04/2014-28241/content-andformat-of-labeling-for-human-prescription-drug-and-biological-products-requirementsfor> Acesso em: 10 dez. 2019.
JUSTINA, Vanessa Dela et al. Evaluation of drug prescriptions for pregnant women in the Legal Amazon Region. Revista Brasileira de Saúde Materno Infantil, [s.l.], v. 18, n. 4, p.735-743, dez. 2018. FapUNIFESP (SciELO). http://dx.doi.org/10.1590/1806-93042018000400004.
RIBEIRO, Alinne Souza et al. Risco potencial do uso de medicamentos durante a gravidez e a lactação. Infarma – Ciências Farmacêuticas, [s.l.], v. 25, n. 1, p.62-67, 30 abr. 2013. Conselho Federal de Farmacia. http://dx.doi.org/10.14450/2318-9312.v25.e1.a2013.pp62-67.
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Muito grata!!!